Madri (Espanha) – Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, ministro Edison Lobão afirmou que as térmicas de Pecém e de São Luís usarão ´carvão mineral importado da Colômbia, com devidos cuidados ambientais´, e disse que o Governo estuda interligar os parques eólicos à rede nacional de distribuição de energia elétrica. ´Dentro de um ano, tudo estará resolvido´
Diário – O senhor anunciou um leilão de energia eólica para o próximo mês de novembro. Que potência será oferecida nesse leilão?
Edison Lobão – A potência ainda não pode se revelada. Isso é um instrumento de decisão do Estado que fica para o momento do próprio leilão. Não se trata de nada escondido, de misterioso, mas é o sistema que se adota no Brasil pelos leilões que são feitos de convocação de energia de reserva. No momento da execução do leilão, que neste caso será no dia 25 de novembro, é que se estabelecerá a potência a ser leiloada.
O interesse do empresariado é pela continuidade de uma política energética. Quando o Brasil terá uma política de longo prazo, estratégica, para o setor de energias renováveis?
Nós já temos uma política de longo prazo. Por falta de planejamento, o Brasil jamais será surpreendido pela falta de energia. Nós temos um planejamento que se refere a um ano, ao ano seguinte, e todos os anos nós cumprimos esse planejamento, um planejamento decenal e um planejamento que prevê 30 anos de execução, Posso dizer-lhe, por exemplo, que o Brasil possui hoje 105 mil MW de energia e dentro de 30 anos nós imaginamos agregar mais 50 mil MW de energia ao estoque atual que temos e que foi construído ao longo de mais de um século. Portanto, o Brasil é um País que se considera moderno, sobretudo no seu planejamento energético.
O empresariado europeu, principalmente o da Espanha, que está entusiasmado com essa perspectiva de investir além do Oceano Atlântico, que segurança ele tem de que pode ir para o Brasil para investir na geração de energias renováveis, como a eólica, por exemplo?
A empresa já foi considerada um mal no Brasil. Hoje, não é um mal, é um bem. A empresa privada vem juntar-se ao poder público nacional, no Brasil, para promover o crescimento e a expansão da economia e com isto a geração de riqueza, de empregos e de bem estar para todo o povo. A energia eólica é uma energia alternativa da melhor qualidade. Todavia, ela ainda é um pouco cara para os padrões brasileiros. O Brasil adota na sua matriz , como ponto fundamental, a geração hídrica, que é uma geração barata. Ela não é barata em outros países, mas é barata no Brasil. Por conseqüência, a energia eólica, que não é tão cara na Europa, no Brasil ela o é. Nós temos que financia-la, temos que subsidia-la para que ela possa existir no Brasil. Temos hoje cerca de 400 MW de energia eólica instalados. Isto não é uma necessidade fundamental, mas é uma necessidade para o começo, para experiência, para a pratica que haveremos de adotar daqui para a frente. A energia eólica é limpa e precisa ser desenvolvida tecnologicamente, cientificamente, para que se torne cada vez mais barata e acessível aos padrões brasileiros.
Ministro, não há ainda uma estrutura para a conexão de parques eólicos. No Ceará e no Rio Grande do Norte implantam-se vários desses parques, O que se fará para que essa conexão seja feita?
Nós estamos cuidando disso agora. Nós temos uma interconexão energética no Brasil inteiro. Todo o sistema está interligado. Os parques eólicos são uma novidade e como toda novidade, ao longo do tempo, que nós esperamos que seja curto, ela vai se adaptando aos padrões antigos existentes. Daqui para a frente, vamos procurar interligar todas as torres de energia eólica ao sistema energético nacional para que ele se torne mais barato, mais funcional, mais rápido na sua execução, proporcionando melhor atendimento a todo o consumidor brasileiro.
Isso será feito no curto prazo, em um ano, dois anos?
Já estamos planejando isso. Eu imagino que, dentro de um ano, tudo estará resolvido.
Ministro, como o senhor vê a implantação de usinas termelétricas movidas a carvão mineral, como as que estão sendo construídas no Ceará e no Maranhão?
O mundo inteiro adota o carvão como uma das principais fontes energéticas. Os EUA, por exemplo, que são exatamente aqueles que mais possuem energia elétrica no mundo, têm 50% de sua matriz baseados na fonte energética do carvão. Ou seja, cerca de 600 mil MW são produzidos nos EUA do carvão mineral. O Brasil tem no carvão uma fonte escassa ainda. Nós produzimos carvão mineral no Rio Grande do Sul e em Santana Catarina. Lamentavelmente, o nosso carvão não é de boa qualidade. E por isto, para as térmicas que estão sendo implantadas no Maranhão e no Ceará e para as duas que se implantam no Rio de Janeiro, o carvão será importado da Colômbia, que é um carvão de alta qualidade, em prejuízo do carvão brasileiro. Se tivéssemos que usar o nosso carvão, teríamos que adotar filtros especiais que encareceriam em torno de 40% o preço da energia gerada. Apelamos então à importação, que não é um mal, não é o fim do mundo; nós exportamos diversas commodities e importamos, também, Com os países da América do Sul, nós temos de ter um cuidado especial, porque o Brasil exporta fortemente para os países sul-americanos e importa muito pouco. É bom que se faça um tempero nesse sistema de comercialização internacional, para que haja compensações e não existam injustiças clamorosas. Assim, posso dizer que a térmica a carvão é uma alternativa pouco utilizável no Brasil ainda, mas que tem o seu lugar especial, com os devidos cuidados ambientais.
Ministro, que balanço o senhor faz desta sua visita que foi considerada pela Associação Empresarial Eólica da Espanha como a mais importante da história dessa entidade?
A Espanha investe fortemente no Brasil. O Brasil é o segundo centro de maior destinação de recursos da Espanha – o primeiro é o Reino Unido. Temos, portanto, de ter uma relação diferenciada com a Espanha. Se somos beneficiados por ela, devemos cuidar dela com uma amizade especial. Quero dizer que a Espanha tem também, no Brasil, um País receptor de seus recursos com respostas. Talvez seja o Brasil o País onde a Espanha se vê em melhores condições de relacionamento empresarial. São inúmeras as empresas espanholas que hoje atuam no Brasil. A Endesa, por exemplo, que atua no setor elétrico, possui mais de 1 mil MW instalados no Brasil, grandes redes de transmissão de energia elétrica e diversas outras atividades em que ela atua intensamente no mercado brasileiro. Ou seja, há uma situação de mão dupla em que é bom para a Espanha e para o Brasil. E é bom que seja assim, porque sendo bom apenas para um dos lados, fica a carga, como se diz no Nordeste, descompensada.
(Fonte: Diário do Nordeste – Fortaleza – Entrevista concedida ao colunista Egídio Serpa)