Por Adriana Thomasi
Uma pequena mostra de modelismo em papel chama a atenção na sala de Recursos Humanos do Terminal Portuário do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, a 60km de Fortaleza. Sobre dois armários estão modelos que representam os principais tipos de navios conteneiros, de carga geral e gaseiro. Hobby do administrador Francisco Márcio Cavalcante Mamede, coordenador de gestão empresarial da Companhia de Integração Portuária do Ceará (Cearáportos), a técnica para a criação das peças, conhecida também como “modelos papercraft”, envolve folhas de papel-cartão e exige uma boa dose de paciência e dedicação.
“É algo relaxante”, diz o artista, que busca inspiração no local de trabalho. Naturalmente, as criações mais recentes incluem navios, contêineres e outros equipamentos. “Atualmente estou desenvolvendo o modelo do Golar Spirit, navio de gás que fica no terminal da Petrobras, no Pecém”, adianta. Quando trabalhava no grupo Edson Queiroz, eram fogões, refrigeradores, freezers, geláguas e caminhões – produtos fabricados pela companhia, que também atua na distribuição de gás. Mas há ainda motos ? uma delas levou três meses para ficar pronta -, além de capacetes, carros, casas, entre tantos outros.
Mais de 120 peças fazem parte do acervo ainda conhecido por poucos. Sem nenhum aceno para exposição, no momento, uma parte da “produção” fica guardada em caixas, outra está distribuída pela casa de Márcio Mamede. “Já não tenho mais onde colocar”, brinca, ao revelar que está projetando agora um estande, com portas de vidro, para manter seu acervo.
De acordo com Márcio Mamede, esse trabalho ainda é pouco divulgado no Brasil. “Em São Paulo, a gente ainda vê algum tipo de exposição e até concursos, mas são raros”, lamenta, ao sinalizar que no Nordeste essa técnica praticamente inexiste. O administrador conta que chegou a ser procurado pela Acesso, agência de publicidade do grupo Edson Queiroz, interessada em fazer um trabalho. “Mas o assunto ainda está em avaliação”, revela.
Diferente do origami, que trata de modelos baseados em dobras de papel (sem utilizar a cola) nos “modelos papercraft” as peças são impressas em cores para, então, serem cortadas, dobradas e coladas. Conforme explica Márcio Mamede, uma das características interessantes dessa técnica, é que as peças já são impressas em cor final, não há a necessidade de pintar o modelo após a conclusão, exceto por opção do modelista. “O material utilizado permite aplicar verniz para assegurar durabilidade e resistência às peças”, observa.
Mais popular no Japão, mas difundido também nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, em especial Alemanha, que tem uma publicação específica, essa “arte” ou técnica como preferem os adeptos do modelismo em papel, começou a aparecer em revistas no início do Século XX. Em especial, após a segunda Guerra Mundial, “quando o papel foi um dos poucos itens a não ser exigido controle de uso e produção”, segundo Márcio Mamede. Na Inglaterra surgiu a partir de 1941, com 100 modelos, a maioria de navios e aeronaves, que se tornaram populares. A arte do papel modelismo chegou a perder espaço para kits de montagem em plástico, mas o advento da internet ajudou na retomada do “movimento”, estimulada pela disponibilidade e baixo custo de alguns modelos na rede. “Como qualquer pessoa poderia baixar e imprimir um arquivo, aos poucos, muita gente foi retomando os “modelos papercraft”, afirma Márcio Mamede. Segundo avalia, a internet facilitou ainda a troca de arquivos entre os praticantes, mas tem lá seus inconvenientes.
“Essa prática encontra um amplo espaço junto aos mais experientes, que, munidos de software, desenvolvem seus próprios modelos”, informa. Conforme o coordenador de Recursos Humanos na Cearáportos, não existe limite para o que pode ser montado, mas os modelos que atraem maior interesse são navios, automóveis, aeronaves, espaçonaves, prédios e animais.
Contados os anos, são 24 dedicados ao hobby. Márcio Mamede começou a desenvolver “modelos papercraft” aos 12 anos, junto com uma irmã, sem mesmo saber que estava ingressando nessa “arte”. Desenhou e “construiu” uma pequena cidade, com casas, prédios, ruas, carros. “Tudo elaborado de forma artesanal e básica, com lápis preto e de cor e caneta”, recorda. Em 2002, iniciou as pesquisas na internet, onde descobriu novas técnicas de desenho e foto, utilizando programas de computador para dar mais realidade e perfeição aos modelos. “Alguns desenhos encontramos na internet, mas o grande desafio é buscar um diferencial em cada trabalho.” “Algumas empresas já utilizam a técnica para divulgar seus produtos e sua marca”,observa Márcio Mamede, esperançoso de que o trabalho seja reconhecido e surjam encomendas, em especial para brindes de fim de ano. “Não tenho como produzir em grande escala, devido ao meu compromisso de trabalho, mas poderia fornecer a parte histórica e o modelo e deixar para cada um a tarefa de montagem.”
Fonte: Revista Cais do Porto