Especialistas do Porto de Roterdã, um dos acionistas do Complexo do Pecém (CIPP S/A), debateram nesta terça-feira, 15, com representantes do setor produtivo e do Consulado Geral dos Países Baixos no Brasil, as potencialidades existentes no Complexo do Pecém para a produção do chamado hidrogênio verde – obtido por meio de um processo químico conhecido como eletrólise. Em webinar moderado por Duna Uribe, diretora comercial do Complexo do Pecém, foi abordado, principalmente, o potencial de negócios do produto e o que já existe de planejamento na Europa.
Considerado um combustível universal, o hidrogênio, em sua versão “verde”, pode ser obtido ao se utilizar uma corrente elétrica para separá-lo do oxigênio existente na água. Caso este processo seja realizado com energias renováveis, como é o caso da eólica e solar fotovoltaica – fontes abundantes no Ceará, o processo deixa de emitir dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, algo considerado prioritário por países europeus que buscam um avanço sustentável.
“Já vimos, através de pesquisas, o potencial que existe no Ceará para o desenvolvimento de um grande hub de hidrogênio verde. Há fatores importantes, como o nosso incrível potencial de gerar energias renováveis, sendo o eólico tanto onshore (em terra), como offshore (em mar) bem como o potencial fotovoltáico”, destaca Duna Uribe. Segundo ela, um grupo gestor composto por Governo do Estado, Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Complexo do Pecém e Universidade Federal do Ceará (UFC) já foi criado para coordenar as ações do Estado com o objetivo de implantação de um HUB de Hidrogênio Verde no Ceará.
Ainda segundo Duna Uribe, a proximidade com o mercado europeu, um dos principais consumidores em potencial do hidrogênio verde, faz do Porto do Pecém, um grande diferencial competitivo do Ceará. “Fala-se em consumo local, e é o que queremos também, mas o maior consumo será de fora”, complementa.
Estratégias de Roterdã
Maior porto da Europa e um dos maiores do mundo, o Porto de Roterdã já se prepara para operar o hidrogênio verde em um futuro próximo, utilizando toda a infraestrutura que já possui e avaliando novos investimentos, conforme explica Randolf Weterings, gerente de portfólio de hidrogênio do Porto de Roterdã.
“Já somos um grande hub de energia, prova disso é que 13% de toda a energia consumida na Europa passa pelo Porto de Roterdã. Já temos experiência com o hidrogênio e sabemos que a demanda por essa versão “verde” só aumentará nos próximos anos, principalmente em virtude das diretrizes da União Europeia”, pontua Randolf. Segundo ele, até 2050, a expectativa é de que 20 milhões de toneladas de hidrogênio verde entrem no noroeste da Europa via Porto de Roterdã.
Para dar conta de uma demanda cada vez maior por hidrogênio verde, o Porto de Roterdã já possui, inclusive, um planejamento para novos investimentos na área pelos próximos 10 anos. Segundo Randolf, em 2023, os primeiros projetos devem começar a operar, incluindo um eletrolisador de 150 a 250 megawatts (MW) no parque de conversão. Até 2030, a meta é instalar até 2 gigawatts (GW) e concluir um terminal de importação totalmente voltado ao hidrogênio verde.
“Somos um hub para a Europa, mas temos rotas para todo o mundo. Não há limites para nossas conexões globais. Atualmente, só não movimentamos mais hidrogênio verde porque não há maior produção. A Holanda não possui esta grande capacidade encontrada em países como o Brasil”, afirma Monica Swanson, gerente de negócios internacionais de hidrogênio do Porto de Roterdã.
Segundo Monica, o Nordeste do Brasil, especificamente, possui uma condição privilegiada para produzir o hidrogênio verde, já que, por possuir fontes robustas de energias renováveis, pode reduzir consideravelmente os custos e tornar o produto mais competitivo. “A maior parte do custo de produção vem da energia e, no Ceará, é possível obter essa energia de forma competitiva. Se isso for alinhado à infraestrutura do Complexo do Pecém, é possível criar uma grande cadeia produtiva”, destaca.
Demanda europeia
Também participante do webinar desta terça-feira, o cônsul-geral adjunto dos Países Baixos no Rio de Janeiro, Niels Veenis, afirmou que a produção de hidrogênio verde é algo que deve ser estimulado, nos próximos anos, pelo governo holandês, principalmente porque a União Europeia já declarou que o produto será uma prioridade para o desenvolvimento do setor de energia.
“Todos os países que fazem parte da União Europeia devem desenvolver, de forma mais rápida, leis e regulamentações para o desenvolvimento do mercado de hidrogênio verde. Neste aspecto, a importação deste produto será muito importante para a Europa, o que abre uma grande possibilidades para potenciais produtores, como é o caso do Brasil e, mais especificamente, o Ceará”, finaliza Niels Veenis.