Rio – A Petrobras decidiu antecipar o início das operações das primeiras fases das duas refinarias premium que vão ser construídas no Ceará e no Maranhão. A informação foi dada hoje pelo diretor de Abastecimento e Refino da estatal, Paulo Roberto Costa. Desta maneira, a unidade do Maranhão, que terá capacidade total para processar 600 mil barris por dia, terá a primeira fase (com metade deste volume) operando no primeiro semestre de 2013 e a segunda fase em 2015. Já a refinaria do Ceará, com capacidade para processar 300 mil barris por dia, entrará em operação no final de 2013 com 150 mil barris diários, e terá sua segunda fase entrando também no final de 2015. Segundo Costa, a estratégia da antecipação se deu para acompanhar o ritmo de crescimento da produção da Petrobras no País. “Já estamos dizendo há um bom tempo que não queremos nos tornar exportadores de petróleo, mas sim de derivados”, disse. Costa ressaltou que a antecipação dos investimentos ocorre sem aumento nos custos. “Só teremos benefícios”, disse. Ele voltou a criticar a postura de analistas que julgaram inconveniente que a estatal faça os investimentos nestas duas unidades de refino voltadas para a exportação em momento de retração do consumo mundial de combustíveis. “Quem afirma isso tem uma miopia de mais de dez graus. Esses projetos não estão sendo criados com uma varinha de condão para começarem a atuar hoje. Estamos olhando para um futuro em que não haverá mais crise”, afirmou. “Temos convicção de que a crise não vai durar 10 anos, nem cinco, talvez nem três anos e queremos estar preparados para fazer da Petrobras uma empresa mais forte para quando este ciclo se encerrar”, disse. PDVSA O diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras disse também que ainda existe impasse sobre a participação da Petróleos de Venezuela (PDVSA) no capital acionário da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e que tem investimentos estimados em US$ 4 bilhões para processar 230 mil barris por dia a partir de 2011. Segundo ele, diante das prerrogativas que a petrolífera venezuelana impôs para participar, há indicativos de que pode ficar de fora do projeto. “Se ela mantiver essa posição, a parceria é inviável”, frisou. Segundo Paulo Roberto Costa, existem dois pontos que para a Petrobras são incontestáveis e exigem mudança de postura da PDVSA. O primeiro deles refere-se ao preço do óleo a ser trazido da Venezuela. A Petrobras quer aplicar a mesma fórmula que utilizará para remunerar o seu petróleo transportado da Bacia de Campos para a unidade pernambucana, ou seja, basear-se no valor do petróleo Brent, multiplicado por um fator de deságio, já que o petróleo venezuelano é mais pesado do que a média internacional. A PDVSA, porém, não concorda com esta fórmula e quer adicionar um “fator x”, que multiplicaria o deságio por um número determinado aleatoriamente pelo governo venezuelano. “Não posso assinar um contrato em que há um valor em aberto e que será definido pela outra parte sem qualquer base. Não podemos aceitar isso”, disse Costa. Além de ser um pouco mais pesado do que o óleo já bastante pesado da Bacia de Campos, segundo Costa, o petróleo venezuelano ainda possui componentes que derrubam ainda mais o seu preço. O segundo ponto em que a PDVSA insiste é a colocação de sua parte de óleo processado na refinaria (o equivalente a sua participação de 40%) diretamente no mercado consumidor do Nordeste. Segundo Costa, a proposta da Petrobras é para que a Refinaria Abreu e Lima seja um espelho das demais unidades do País, entre elas a Refap, no Rio Grande do Sul, em que a Repsol participa com um porcentual de 30%. “Vendemos o óleo processado indistintamente para todas as distribuidoras. Estamos preservando as distribuidoras pequenas que poderiam quebrar caso a PDVSA vendesse sua parcela para apenas uma unidade ou por um preço inferior ao do mercado”, disse Costa. Licitações canceladas A Petrobras deverá cancelar os quatro principais pacotes de licitações realizados para a Refinaria Abreu e Lima, por preço excessivo, disse Costa. Segundo ele, a empresa “está esgotando as negociações com intenção de reduzir os valores apresentados, mas não está tendo o sucesso esperado”. Ele não citou valores, mas diz que a tomada de preços foi realizada ainda com o mercado muito aquecido e fora da realidade atual. Os pacotes a serem cancelados previam a construção das unidades de destilação, hidrocraqueamento, coqueamento e interligação. Combustíveis Costa disse ainda que o mercado consumidor de combustíveis no País deve crescer este ano na mesma faixa de 2008, ou seja, em torno de 3%. “Mesmo com o arrefecimento do mercado provocado pela crise, não acredito que ficaremos abaixo dos 3%.” Segundo ele, a manutenção da taxa de crescimento no mercado este ano deve se dar por conta, principalmente, do aumento da frota de veículos, que invariavelmente ocorre, e ainda devido à safra deste ano ser praticamente igual à do ano passado. Costa, no entanto, admitiu ainda que o Brasil não obterá a autossuficiência em óleo diesel este ano. “Nós hoje temos a autossuficiência em petróleo, mas não em todos os derivados, apenas em produtos isolados, como é o caso da gasolina e do óleo combustível e, às vezes, no QAV (querosene de aviação) e GLP (gás liquefeito de petróleo) “, admitiu.
(Fonte: Revista INTERMARKET – 19.02.2009 – Ag. Estado) |