“Nós estamos fazendo história para a humanidade. A nossa ligação fará a mudança que o mundo precisa para a descarbonização”. A declaração foi dada pelo governador do Ceará, Elmano de Freitas, na manhã desta quarta-feira (10), em São Gonçalo do Amarante, durante a assinatura de acordos para a criação do Corredor de Hidrogênio Verde (Green Hydrogen Corridor), entre o Porto do Pecém e o Porto de Roterdã, e da Parceria de Portos Verdes (Green Ports Partnership), entre o Ceará e os Países Baixos. A solenidade contou com a presença do primeiro-ministro do Reino dos Países Baixos, Mark Rutte, e de outras autoridades e executivos.
Com a assinatura, o Complexo do Pecém e o Porto de Roterdã criam um corredor de ponta a ponta da cadeia de suprimentos para hidrogênio verde, incluindo produção no Pecém e recebimento e distribuição no Porto de Roterdã, para atender à demanda nos Países Baixos e em outros países da Europa. Assinaram a criação do corredor Complexo Industrial e Portuário do Pecém, AES Brasil, Casa dos Ventos, Nexway, Havenbedrijf Rotterdam, Fortescue e EDP.
Elmano de Freitas destacou que o desenvolvimento sustentável do Ceará representa mais emprego e renda. “Reconhecemos a Holanda como uma das grandes protagonistas, na Europa e no mundo, nessa luta global para diminuir a emissão dos gases do efeito estufa. O corredor marítimo e a parceria fortalecem o Porto do Pecém como porta de entrada e saída [de hidrogênio verde] para o Brasil e o mundo. O hidrogênio verde permitirá o aumento da produção da energia eólica e solar. A matriz energética do Ceará já é bastante diversificada. Nós temos que incluir os mais vulneráveis nesse desenvolvimento, para que as pessoas do sertão do cearense se transformem também em produtores de energia e possam vender para outros produtores. A transição energética global tem que ser justa e inclusiva”, complementou o governador.
O primeiro-ministro dos Países Baixos também falou da expectativa em relação à cooperação. “Portos são a base da economia neerlandesa, mas também da competitividade ao redor do mundo. Já somos tradicionalmente vistos como um portal de acesso à Europa, para vários tipos de produtos. Roterdã e o Pecém também podem legitimamente se denominar o portal de acesso ao Hidrogênio para a Europa. O Brasil está diante de uma oportunidade excepcional para fortalecer o seu setor marítimo. O Brasil também é um dos líderes de exportação de commodities e o volume total de cargas está crescendo. Então, esta é uma oportunidade fantástica. A Holanda, com sua expertise em portos e logística, está buscando cooperar, e é o que já estamos fazendo, e de hoje em diante faremos muito mais juntos. O hidrogênio verde não é uma tecnologia do futuro distante, é do presente, está acontecendo agora. Estamos estabelecendo o alicerce do futuro na economia verde. O Ceará está liderando o caminho no Brasil, bem como Roterdã é um líder na Europa”, enfatizou Mark Rutte.
O Porto do Pecém é um dos portos de maior potencial para energias renováveis; Roterdã é considerada a principal porta de entrada para a Europa. Os dois portos são parceiros desde 2018, quando o Governo do Ceará acordou com o governo dos Países Baixos, controlador do Porto de Roterdã, a cessão de 30% do Porto do Pecém.
Ainda segundo o governador Elmano de Freitas, o Governo Federal já sinalizou que está empenhado em transformar a planta industrial brasileira para uma matriz de energia limpa. Isso implica em uma discussão entre diversos ministérios, governos estaduais e sociedade para desenvolver o Plano Nacional de Hidrogênio Verde.
Roterdã
A assinatura do acordo dos Portos Verdes foi transmitida também na World Hydrogen Summit 2023, uma das principais feiras de hidrogênio verde do mundo, que está sendo realizada em Roterdã até quinta-feira (11). Uma comitiva do Complexo do Pecém está participando do evento.
Depois da cerimônia, o primeiro-ministro, acompanhado da comitiva, participou ainda de almoço de negócios e conheceu a infraestrutura do Complexo do Pecém.
Potencial cearense
Com foco no desenvolvimento do Hub de Hidrogênio Verde, o Estado do Ceará se encaminha para a marca de 30 memorandos assinados com empresas interessadas na produção. Destes, três já avançaram a pré-contratos selados e têm área reservada na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Ceará: Fortescue, Casa dos Ventos e AES. A soma de investimento é estimada em US$ 8 bilhões. Além disso, o Porto do Pecém deve investir R$ 2,2 bilhões para dotar o terminal de infraestrutura capaz de abrigar os projetos.
Nesse sentido, a Parceria Portos Verdes, entre o Governo do Ceará e Países Baixo, estabelece apoiar empresas holandesas a exportar e investir no Brasil e apoiar empresas brasileiras com investimentos e exportações para a Holanda.
Do lado neerlandês, é uma cooperação entre a Rotterdam Partners, a Agência Empresarial dos Países Baixos (RVO) e a Rede Diplomática Econômica Neerlandesa no Brasil. O programa conta ainda com a colaboração do Porto de Roterdã, Arcadis, TNO (Organização Holandesa para Pesquisa Científica Aplicada), Wind & Water Works (organização de indústria para energia offshore), assim como um grupo de empresas neerlandesas atuantes no setor marítimo
A expectativa é que essa parceria aumente a cooperação bilateral e o conhecimento para promover conjuntamente iniciativas públicas e privadas no campo do desenvolvimento portuário, logística portuária, conexão com o Interior, bem como projetos de energia portuária, como energia eólica onshore e offshore e a produção de hidrogênio verde.
O presidente do Complexo do Pecém, Hugo Figueiredo, que está na World Hydrogen Summit, participou de forma virtual. “É um momento histórico para o Ceará e para o Porto do Pecém. Esse corredor, conectando os portos, fortalece a parceria e abre a possibilidade de nos inserirmos de vez na transição energética, tendo um papel fundamental em apoiar, principalmente, a Europa nesse momento. O Ceará tem condições competitivas e vantajosas para produção de hidrogênio verde. É uma oportunidade de transformar a vida de todos. Construimos uma um grande aliança pra colocar o Brasil cada vez mais forte nesse momento de transição energética”, reconheceu.
Também em Roterdã para o evento, o secretário do Desenvolvimento Econômico, Salmito Filho, falou sobre a iniciativa. “Estamos avançando nessa construção da transição energética, na descarbonização, contribuindo de forma decisiva para proteção do nosso planeta. Nós estamos também trabalhando para criar oportunidades de emprego e renda, para mudar a economia do Ceará. Esse é um trabalho da governança pública cearense com a Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) e as nossas universidades”, frisou. Além deles, também participaram do evento em Roterdã o senador Cid Gomes e o vice-presidente da Fiec, Carlos Prado.
Em São Gonçalo do Amarante, o diretor internacional do Porto de Roterdã, René van der Plas, destacou que o Porto do Pecém é privilegiado por ter localização estratégica em relação à Europa, bem como o Estado do Ceará tem políticas públicas e um sistema fiscal forte. “Esse Porto, que é uma grande testemunho da cooperação entre Países Baixos e Brasil, tem uma boa infraestrutura e um crescimento potencial. A importação de hidrogênio pode ser um acelerador do desenvolvimento [do Ceará]. É um grande marco. O desafio que temos é garantir que esses potenciais beneficiem a sociedade, criando valor econômico e social”, ressaltou.
O vice-presidente de Operação do Complexo do Pecém, Fabio Grandchamp, também pontuou que o Ceará se transformará em um polo de negócios, indústria, inovação e conhecimento em energia limpa. “O processo de transição energética está escrevendo um novo capítulo na história, assim como foi a revolução industrial. Estamos diante da revolução energética. E o Brasil e o Ceará serão protagonistas nessa história. Será um capítulo que irá transformar a matriz energética do mundo, descarbonizar a Europa e também vai mudar o Ceará com uma onda de desenvolvimento e emprego e investimento nunca antes vistos”.
Além deles, também participaram do evento em Roterdã o senador Cid Gomes, o vice-presidente da Fiec, Carlos Prado, o secretário executivo da Indústria da SDE, Joaquim Rolim, o presidente da ZPE Ceará, Eduardo Neves,o presidente da Adece, Danilo Serpa, a vice-presidente do Complexo do Pecém, Rebeca Oliveira, e do CEO do Porto de Rotterdã, Alllard Castelein.